[Resenha] Auggie & Eu

Nome: Auggie & Eu

Autora: R.J. Palacio

Edição: 1/2015

Editora: Intrínseca

Páginas: 326

Sinopse: A história de Auggie Pullman, o menino de aparência incomum que tem encantado milhares de leitores desde o lançamento do romance Extraordinário, em 2013, ganha agora novas perspectivas: Julian, Christopher e Charlotte, personagens da vida de Auggie, narram nos três contos reunidos no livro Auggie & Eu seus encontros e desencontros com o amigo extraordinário.

O capítulo do Julian dá voz a um personagem controverso: o menino que liderava o bullying contra Auggie na escola. Enfim temos a oportunidade de entender o que o levou a agir dessa forma e o que Julian pensa das próprias ações. Em Plutão, o narrador é Christopher, o primeiro amigo de Auggie. Os dois meninos compartilham lembranças da infância e, apesar de terem se distanciado, aprendem que boas amizades sempre valerão um esforcinho a mais. Shingaling mostra Auggie pelos olhos de Charlotte, a única menina entre as três crianças escolhidas para apresentar a Auggie sua nova escola. Com ela entramos no universo das garotas e vemos como a chegada de Auggie afetou as relações entre elas.

Para quem sente saudades do menino cativante de feições e personalidade extraordinárias e tem curiosidade em saber mais sobre sua história, Auggie & Eu é um verdadeiro presente.

Comentários:

Há praticamente dois anos li Extraordinário, a maravilhosa história de como Auggie superou as dificuldades em seu primeiro ano na escola Beecher Prep. O livro me tocou de tal forma que foi impossível não querer ler qualquer coisa que R. J. Palacio viesse a escrever, qualquer coisa mesmo. E eis que fui surpreendida com essa coletânea dos três contos extras que inicialmente foram lançados como e-books. Apenas o último era inédito no Brasil, mas como ainda não aderi a onda dos livros digitais foi tudo novidade para mim.

O Capítulo do Julian é o conto de abertura, nele podemos ouvir a perspectiva do polêmico garoto que liderou o bullying contra Auggie. Dividido em antes e depois, a história narrada por Julian nos mostra não só suas primeiras reações ao receber o convite do Sr. Buzanfa para formar o comitê de boas-vindas a Auggie e como foi exatamente sua saída da escola, mas também um pouco de sua vida. Tinha lido comentários de que esse conto fazia mudar a opinião sobre Julian. Confesso que duvidava disso e continuei duvidando por boa parte da leitura, mas quando fui chegando perto da metade percebi que algo começou a mudar. A princípio, conhecer os pais dele e ver que é uma daquelas crianças que tem uma criação baseada em aparências tornou compreensível seu comportamento. Todavia, a mágica do conto está em quando o menino passa as férias de verão com a avó paterna na França. Ao saber o que realmente aconteceu no colégio a avó de Julian resolve contar o que vivenciou durante a II Guerra Mundial. Uma história bem tocante e bonita, a forma ideal de fazer o menino rever seus conceitos.

Plutão é o conto mais curto do livro, onde conhecemos melhor Christopher, o mais antigo amigo de Auggie. Entendemos melhor como começou essa amizade e como os meninos se distanciaram um pouco. Aqui acompanhamos o desenrolar de um dia atribulado na vida de Chris entremeado por flashbacks do início de sua vida com Auggie. Honestamente esse foi o conto que menos me envolveu, principalmente porque seu protagonista não é assim tão carismático. Mas tem uma trama bastante verossímil e acho que retrata muito bem como crianças reagem diante de alguns conflitos, sejam pessoais ou familiares. Chris passa por muitas coisas e expõe os momentos que tornaram “difícil” manter-se amigo de Auggie, embora nunca quisesse realmente desistir disso. Um bom conto que mostra o valor de uma verdadeira amizade.

Shingaling encerra a coletânea nos permitindo conhecer melhor Charlotte, a única menina do comitê de boas-vindas de Auggie mas que nunca se aproximou muito dele. Uma garota de bom coração mas que prefere se manter neutra nos conflitos. Pelos olhos dela conhecemos a reação das meninas à chegada de Auggie na Beecher Prep, e também sua postura diante dos conflitos comuns à meninas nessa faixa etária. Charlotte tem seus próprios problemas e tem uma história muito legal, talvez isso contribua para fazer deste o conto mais independente de Extraordinário apesar da grande participação de Summer. Sua determinação para participar de uma apresentação de dança na escola, encontrar um senhor que tocava acordeão na rua que sumiu de repente e ainda manter-se fiel às amizades e a si mesma são coisas bacanas de se acompanhar. Sem dúvida um conto muito bonitinho.

Na introdução de Auggie & Eu Palacio discorre sobre como as pessoas sempre lhe perguntam quando sairá uma continuação de Extraordinário. Confesso que eu era uma pessoa que queria muito isso, mas entendo e concordo com a visão da autora de que uma continuação limitaria as possibilidades de Auggie. No entanto, ela sentia que esses personagens (Julian, Chris e Charlotte) tinham suas próprias histórias e que mereciam ser contadas. Por isso resolveu escrever esses contos, o que considerei uma ótima oportunidade não só de dar voz a esses personagens mas também de abordar uma gama maior de assuntos. Leve, despretensioso e ainda assim super reflexivo recomendo Auggie & Eu tanto quanto recomendo Extraordinário, e para pessoas de todas as idades.