terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

[Resenha] Marina

Nome: Marina
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Edição: 1/2011
Editora: Suma das Letras
Páginas: 189

Sinopse: Neste livro, Zafón constrói um suspense envolvente em que Barcelona é a cidade-personagem, por onde o estudante de internato Óscar Drai, de 15 anos, passa todo o seu tempo livre, andando pelas ruas e se encantando com a arquitetura de seus casarões. É um desses antigos casarões aparentemente abandonados que chama a atenção de Óscar, que logo se aventura a entrar na casa. Lá dentro, o jovem se encanta com o som de uma belíssima voz e por um relógio de bolso quebrado e muito antigo. Mas ele se assusta com uma inesperada presença na sala de estar e foge, assustado, levando o relógio. Dias depois, ao retornar à casa para devolver o objeto roubado, conhece Marina, a jovem de olhos cinzentos que o leva a um cemitério, onde uma mulher coberta por um manto negro visita uma sepultura sem nome, sempre à mesma data, à mesma hora. Os dois passam então a tentar desvendar o mistério que ronda a mulher do cemitério, passando por palacetes e estufas abandonadas, lutando contra manequins vivos e se defrontando com o mesmo símbolo - uma mariposa negra - diversas vezes, nas mais aventurosas situações por entre os cantos remotos de Barcelona. Tudo isso pelos olhos de Óscar, o menino solitário que se apaixona por Marina e tudo o que a envolve, passando a conviver dia e noite com a falta de eletricidade do casarão, o amigável e doente pai da garota, Germán, o gato Kafka, e a coleção de pinturas espectrais da sala de retratos. Em Marina, o leitor é tragado para dentro de uma investigação cheia de mistérios, conhecendo, a cada capítulo, novas pistas e personagens de uma intrincada história sobre um imigrante de Praga que fez fama e fortuna em Barcelona e teve com sua bela esposa um fim trágico. Ou pelo menos é o que todos imaginam que tenha acontecido, a não ser por Óscar e Marina, que vão correr em busca da verdade - antes de saber que é ela que vai ao encontro deles, como declara um dos complexos personagens do livro.

Comentários:

Ano passado, após ouvir e ler tantos elogios, conheci a poética narrativa de Carlos Ruiz Zafón através de sua trilogia Cemitério dos Livros Esquecidos e foi paixão à primeira frase. Tanto que praticamente li um volume atrás do outro. Mas como o autor tem apenas sete livros publicados decidi não ir com muita sede ao pote e dar um intervalo maior entre os demais. Todavia, não aguentei mais ver Marina parado em minha estante há mais de um ano e decidi que já tinha esperado tempo suficiente.

Começamos acompanhando essa história pelo final. No prólogo, um rapaz conta que durante sua adolescência em Barcelona ficou desaparecido por uma semana. Até que um oficial o viu vagando perto da estação central e o reconheceu. Ele nunca contou a ninguém a verdade sobre esses dias. Os acontecimentos na vida do garoto meses antes desse desaparecimento é o que o leitor acompanhará nos próximos capítulos.

Esse garoto é Óscar Drai, estudante de um internato jesuíta que gostava de usar as horas livres das tardes para andar pelas ruas. Em uma dessas tardes, quando tinha 15 anos, resolve vagar por uma ruela de mansões abandonadas e acaba entrando em uma que descobre num susto estar habitada. Acaba fugindo e levando sem querer um relógio de bolso quebrado. Consumido pela culpa ele volta uma semana depois para devolver relógio e conhece os moradores da tal mansão. Marina, uma linda garota de sua idade, Gérman, o pai dela, e o gato Kafka. Assim começa uma grande amizade e uma aventura repleta de mistérios.

Apesar de ser um livro classificado como juvenil não espere nada do tipo “garoto conhece garota, eles se apaixonam e vivem um romance cheio de obstáculos”. É verdade que Óscar tem por Marina um interesse que não consegue disfarçar, mas o que vemos se formar mesmo é a amizade entre dois jovens apaixonados por mistérios. E claro, a relação deles para com Gérman também é digna de nota. Um senhor super cativante que tem Marina não só como filha, mas como melhor amiga e que facilmente ganha a confiança de Óscar.

É difícil dizer se o ponto forte da obra são seus personagens e as relações que constroem ou os mistérios a serem desvendados. Pois quando Marina e Óscar resolvem seguir a mulher de vestes negras que veem no cemitério acabam entrando numa complicada história de traições, segredos e desafios à natureza cujo mundo nunca conheceu a verdade absoluta. Uma antiga e sombria história que os leva a desenterrar segredos guardados há mais de 30 anos. Mostrando que as memórias, assim como as pessoas, não são confiáveis. Bom, acho que podemos dizer que há um empate.

A narrativa na primeira pessoa mostra na maior parte a voz de Óscar, exceto nas partes em que algum personagem que encontram conta sua versão de fatos passados. O que faz com que a cada pista revelada o leitor questione se aquilo é real ou mais uma mentira. Construindo uma história tão rica e ampla que é difícil acreditar que o livro nem chega a 200 páginas. E com uma linguagem poética, parágrafos repletos de ação, diálogos perspicazes e capitulação curta as páginas voam sem se notar.

Marina é o quarto romance escrito por Zafón, que o tem como seu favorito. O autor revelou que o escreveu como algo que gostaria de ter lido quando era jovem e que ainda lhe agradaria quando estivesse mais velho. Creio que foi uma decisão acertada, pois é um livro capaz de conquistar facilmente pessoas de qualquer idade. É difícil falar da obra sem entregar muito da trama, a sinopse já é bastante reveladora. De modo que fiquei com receio de falar demais. Uma história sobre autoconhecimento e mistérios, relacionamentos e segredos. E que mostra que o importante numa amizade não é por quanto tempo as pessoas convivem, mas as marcas que deixam uma na outra. O que ainda posso dizer é que é um livro que se enquadra em vários gêneros, que me conquistou e recomendo sem medo.

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