sábado, 5 de setembro de 2015

[Vale Ver #06]: Person of Interest


Uma ficção que podia ser realidade.

Pedir a um seriador convicto por uma indicação sem dizer muito sobre o que está a fim de assistir é pedir para vê-lo sofrer. Escrever essa coluna não é muito diferente, pois obriga o responsável da vez a se perguntar “o que vou dizer para os leitores que Vale Ver?” Afinal, são tantas opções... Depois de tanto matutar percebi que uma série que indico bastante é Person of Interest, que por motivos que desafiam a razão pouco foi mencionada neste humilde blog.

Você está sendo vigiado. Esse é o fato no qual se centra a premissa de Person of Interest e é lembrado em cada episódio desde a abertura. Harold Finch (Michael Emerson) é um gênio da computação que a pedido do Governo criou um sistema secreto de vigilância que previsse atos terroristas, com intenção de evitar tragédias como a do 11 de setembro. Essa Máquina – ou Machine, se preferir – vigia todos a qualquer hora e em qualquer lugar, e possui um sofisticado software de Inteligência Artificial para que ela mesma faça o cruzamento de dados e nenhuma pessoa precise acessá-los, e desse modo prever ataques terroristas. Mas a Machine acabou vendo tudo, crimes envolvendo pessoas comuns, pessoas que o Governo considera irrelevantes.

A pedido do Governo. Finch a reprogramou para fazer apenas que foi pedido desde o início. A prioridade era o bem maior e os crimes menores podiam continuar a cargo da polícia. No entanto, um fatídico “acidente” com seu amigo e sócio no projeto o fez mudar de ideia e abrir uma brecha na Machine. Ele passou a receber os números do Seguro Social dos irrelevantes, de pessoas que poderiam ser vítimas ou criminosas. Só se sabia que estariam envolvidas em algum crime. Mas ele não podia impedir esses crimes sozinho, e começamos a acompanhar essa história no ponto em que Finch contrata John Reese (Jim Caviezel). Um veterano de guerra que abriu mão de muita coisa, e ao perder a mulher que amava perdeu também a razão de viver. Ele precisava de um novo propósito.


Vale dizer que o Departamento de Polícia de Nova York se faz presente em boa parte da trama. E dois de seus membros são figurinhas carimbadas: A Detetive Jocelyn Carter (Taraji P. Henson) é uma mulher forte e determinada que após os primeiros atos do Homem de Terno (apelido que Reese ganha da mídia) passa a persegui-lo por não saber de que lado ele está. Já o Detetive Lionel Fusco (Kevin Chapman) é um policial corrupto que após um encontro nada amistoso com Reese é recrutado para ser seus olhos dentro do Departamento e fornecer informações quando necessário.

Muita coisa já aconteceu e mudou, mas isso é o que se precisa saber sobre o início de Person of Interest. O mais marcante na série é como ela consegue ao mesmo tempo e de forma equilibrada tratar das pessoas comuns e os grandes esquemas de governos e agências de segurança. Sendo que praticamente dá a entender que quem realmente comanda são as agências, fazendo do governo um mero coadjuvante. Mas o interessante é que tudo isso leva a reflexão do que de fato é o bem maior. Será que realmente compensa fazer o que for necessário para evitar que centenas ou até milhares de pessoas morram com a explosão de uma bomba enquanto um número talvez até maior morra por crimes de proporções menores cujo ninguém faz nada para evitar? Talvez por isso Finch sempre mencione que ninguém é irrelevante.

É marcante também a forma como é levada a questão da vítima ou criminoso, as vezes fica claro desde o início e as vezes é uma verdadeira incógnita. Não foram poucas as vezes em que a pessoa tinha tudo para ser a vítima e então se revela o criminoso, e visse versa. Mostrando também que essas classificações nem sempre dizem respeito a índole da pessoa. Os crimes vão de assassinatos premeditados, vingança, desavença entre gangues e até violência doméstica. Esse último foi abordado algumas vezes mas em especial num episódio ainda da 1ª temporada que para mim é até hoje um dos melhores da série. E as vezes alguns dos assuntos abordados também são usados como pano de fundo para flashbacks de algum dos personagens principais.


Um fato interessante de se mencionar é que Person of Interest estreou cerca de dois anos antes de Edward Snowden revelar ao mundo a invasão de privacidade pela qual os cidadãos americanos vinham sendo submetidos. Sendo que ainda na 1ª temporada houve um episódio em que Finch e Reese se deparam com um funcionário da NSA que descobriu o sistema de vigilância e queria revelá-lo ao mundo, e Finch o aconselhou a não fazê-lo não só porque a vida do rapaz correria risco como também colocaria em jogo uma preciosa ferramenta. Sem falar das crises políticas e econômicas que se seguiriam. Entretanto, a principal diferença entre a Machine e o sistema denunciado por Snowden é que na série nenhuma pessoa tem acesso aos dados, Finch menciona diversas vezes que ninguém deveria ter tanto poder. E mesmo assim a Machine precisa ser mantida em segredo porque as pessoas querem estar seguras mas não querem saber o que precisa ser feito pra isso, e porque nas mãos erradas ela se tornaria uma arma. O fato é que a revelação de Snowden obrigou os produtores a mudar (ou talvez antecipar) alguns caminhos da trama, pois que graça teria uma série sobre um sistema de segurança secreto quando na vida real todo mundo sabe de sua existência? Felizmente foi tudo bem realizado e nada foi afetado. E isso mostrou ainda que uma ficção distópica não está assim tão longe da realidade.

Person of Interest estreou dia 22 de Setembro de 2011 no canal de TV americano CBS, e possui até o momento 90 episódios divididos em 4 temporadas. Foi criada por Jonathan Nolan que também atua como produtor executivo ao lado de J.J. Abrams. A 5ª temporada terá 13 episódios e estreará apenas em 2016, não se sabe se será a última e os produtores revelaram que apesar de também não saberem estão trabalhando como se fosse. O que sei é que essa série que comecei a ver por saudades de Lost (Michael Emerson + J.J. Abrams) acabou se tornando uma de minhas favoritas e desde que tenha um encerramento digno e grandioso, estarei feliz.

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