domingo, 13 de setembro de 2015

[Resenha] O Encantador de Flechas

Nome: O Encantador de Flechas
Série: Supernova – Livro #01
Autor: Renan Carvalho
Edição: 2/2015
Editora: Novas Páginas
Páginas: 440

Sinopse: Imersa em uma ditadura implacável, a isolada cidade de Acigam sofre com a ameaça da guerra civil. De um lado, a Guilda, um grupo que utiliza os ensinamentos da Ciência das Energias para exigir direitos para a população. Do outro, um governo tirano, resguardado por soldados especialistas em aniquilar magos — nome vulgar dado aos praticantes da tal ciência. No meio desse conflito vive Leran, que, após ser tragado para a rebelião, tenta aprender mais sobre sua misteriosa habilidade de encantar objetos com a energia dos elementos.





Comentários:

O livro meio que chegou às minhas mãos de surpresa, quando o ganhei de um primo. Já tinha visto a capa na internet mas desconhecia o enredo, e como me determinei a não conferir sinopses antes de iniciar a leitura resolvi que entraria nessa de cabeça. Mas ao notar o nome do autor na capa foi inevitável a constatação de que se tratava de um brasileiro, e logo a de que a literatura nacional vai muito bem, obrigada.

Leran Yandel (ou Le, se preferirem) é um jovem de 17 anos que vive em Acigam, uma cidade aparentemente comum mas que vive sob a tirania de um rei e seu exército. O garoto está terminando o ensino convencional, mas como a cidade é cercada por muros e não possui universidades suas perspectivas de futuro não são muito promissoras: trabalhar na loja de seu avô Bretor e continuar tendo aulas de magia (como a ciência é vulgarmente chamada pelo governo) com ele. Le teria uma vaga garantida no Exército por ser o melhor aprendiz de arco de sua turma, mas se recusa por saber de toda a opressão a qual a população é submetida. Até suas aulas de magia precisam ser escondidas, pois é algo estritamente proibido.

O fato é que o rapaz está totalmente enganado ao pensar que seu futuro será simples. Não bastasse presenciar a morte de um amigo de seu avô pelas mãos de um agente especial denominado Silenciador e descobrir que o avô junto com outros amigos comerciantes formam uma Guilda de Magos que luta contra o governo, ele logo terá que entrar nessa luta. Le terá que se tornar um exímio controlador e guerreiro para lutar por aquilo que acha certo e a segurança de sua família. E também terá que aprender a não confiar em ninguém.

Esse é só o início da história de O Encantador de Flechas, primeiro volume da trilogia Supernova, que se mostra rica em detalhes e desdobramentos. De início temos a impressão de que Acigam realmente se trata de um lugar comum e até bastante contemporâneo, considerando as moradias, veste e o trem como meio de transporte público urbano. É aos poucos, conforme vamos descobrindo mais sobre a vida de Le e principalmente as aulas que tem na escola que vemos o quanto esse lugar é diferente. Afinal, em que lugar hoje em dias jovens aprendem a usar arco e flecha como ferramentas de combate e não um esporte? Além de que a ciência, apesar de ser diferente da nossa, é chamada de magia pelo governo e ter sua prática estritamente proibida. Usando isso até para manipular a parte mais humilde da população. Com isso, pode-se dizer que Renan criou para o seu mundo uma boa mistura de contemporâneo com medieval.

Talvez seja certo dizer que há também uma mistura interessante de gêneros. Embora seja tida como uma história de fantasia, é sempre lembrado o fato de que a tal magia é na verdade uma ciência e que os magos são na verdade controladores de energias. Então apesar da introdução do livro ser uma história sobre deuses criando um mundo (que é o que jovens como Le aprendem na escola) dar essa impressão de ser uma fantasia, essa mais tarde se mostra uma metáfora das tais energias que deram origem ao mundo. O que junto aos equipamentos super elaborados garante um toque de ficção cientifica. Além de que ter um governo tirano oprimindo a população traz ares de distopia.

Os personagens e a trama também contam com uma boa construção. Nada acontece por acontecer, tudo tem alguma razão para estar lá mesmo que demore um pouco a se mostrar. E mesmo tendo diversos personagens, cada um traz uma personalidade única e marcante. O protagonista Le, por exemplo, é um jovem maduro para a sua idade por conta da vida que leva (também por ter perdido o pai muito cedo) mas que ao início ainda tem sonhos de garoto, e com tudo que vem a acontecer se obriga a crescer de vez e se tornar um homem adulto. Bretor é aquele avó carinhoso e paciente mas que esconde seus segredos. Dos demais personagens ainda vale citar a mãe super protetora de Le, Laura, e sua irmã mais nova, Luana, que além do humor sarcástico será uma peça fundamental para os próximos volumes. Sem esquecer Judra, a misteriosa garota por quem Le se apaixona.

Outra coisa que me agradou foi o fato de que não existe um lado totalmente bom e um totalmente mau. Existem pessoas boas e más, mas elas não estão estritamente ligadas a um ou outro grupo. Claro que em Acigam os magos são aqueles que se rebelam contra a tirania do governo, os bons por assim dizer. Mas conforme vamos descobrindo mais sobre os Silenciadores, como vieram parar nessa vida e como funciona o mundo fora dos muros que não existem divisões. São pessoas sujeitas a falhas de caráter independente do círculo em que nasceram e/ou vivem. E nem todo mundo é o que aparenta a uma primeira vista. São acima de tudo pessoas querendo sobreviver, como é no mundo real.

A narrativa é feita em primeira pessoa mostrando as perspectivas de Le e Judra. O enredo é dividido em capítulo medianos distribuídos em quatro partes, sendo três narradas por Le (as duas primeiras e a última) e apenas uma por Judra. O ritmo é bom, ágil, sempre tem reviravoltas acontecendo e revelações sendo feitas. Só me incomodaram alguns pequenos excessos de narrativa, como os personagens mencionando até a forma como levantam da cama, que foram escovar os dentes e até a ordem das peças de roupa que trocam. Mas nada que atrapalhe o acompanhamento da trama.

O final do livro traz um apêndice listando os personagens, lugares e termos usados na trama, o que pode vir a ser útil numa história tão rica em detalhes. (Embora eu não tenha me sentido perdida em momento algum.) Essa edição ainda conta com ilustrações e ao final um capítulo extra narrado por Judra que se encaixa bem no início da trama, antes da personagem entrar na história. Além de uma prévia de A Estrela dos Mortos, segundo volume da trilogia que deve ser lançado ainda esse ano, que mostrou ser ainda mais promissor do que o final deste primeiro volume já apontava que seria.

Em suma, O Encantador de Flechas é um início envolvente e instigante para uma saga igualmente promissora. A trilogia Supernova está recomendada para aqueles fãs de ficção que procuram algo que tenha o melhor de suas histórias favoritas e ainda seja algo novo. Considerem aprovado.

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