segunda-feira, 11 de novembro de 2013

[Resenha] Morte Súbita

Título: Morte Súbita
Autora: J K Rowling
Edição: 1/2012
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 504

Sinopse: Quando Barry FairBrother morre inesperadamente aos quarenta e poucos anos, a pequena
cidade de Pagford fica em estado de choque.
A aparência idílica do vilarejo, com uma praça de paralelepípedos e uma antiga abadia, esconde uma guerra.
Ricos em guerra com os pobres, adolescentes em guerra com seus pais, esposas em guerra com os maridos, professores em guerra com os alunos… Pagford não é o que parece ser à primeira vista.
A vaga deixada por Barry no conselho da paróquia logo se torna o catalisador para a maior guerra já vivida pelo vilarejo. Quem triunfará em uma eleição repleta de paixão, ambivalência e revelações inesperadas? Com muito humor negro, instigante e constantemente surpreendente, Morte Súbita é o primeiro livro para adultos de J.K. Rowling, autora de mais de 450 milhões de exemplares vendidos.




Comentários:


Depois de uma mega maratona de Harry Potter, estava determinada e ler Morte Súbita o quanto antes para ficar logo em dia com as obras de J K Rowling. Sabia desde o princípio que a narrativa pautada nada tinha a ver com sua saga de estreia que virou sucesso mundial e das opiniões divergentes que ela causou. Mas esperava ter uma boa leitura devido a qualidade do trabalho da autora, e no entanto não foi bem o que aconteceu.

Morte Súbita é o primeiro romance para adultos de Rowling, com uma história bem cotidiana e nada fantasiosa. O enredo se passa no na vila de Pagford, um distrito pertencente à cidade britânica de Yarvil. Distrito e cidade tem um conflito de décadas por causa de Fields, um bairro suburbano situado na divisa e pelo qual ninguém quer se responsabilizar. O enredo começa quando Barry Fairbrother, um conselheiro distrital de Pagford, tem um aneurisma que causa sua morte súbita. Isso faz com que surja uma vacância, uma vaga no concelho. E dependendo de quem tomar essa vaga, significa que Pagford se livrará ou estará atada para sempre à Fields.

A morte de Barry meche com todos. Os que o amavam por terem perdido alguém querido e querem dar continuidade ao seus projetos, e os que o odiavam por verem uma oportunidade única de passar Fields para os domínios de Yarvil. E com as eleições para decidir quem tomará a cadeira de Barry no conselho vem a revelação de segredos que estavam muito bem guardados e que ameaçam a estrutura dessa sociedade tão frágil.

A premissa assim parece interessante, e realmente é. O problema principal são os personagens, mesquinhos e pouco carismáticos. Tem uns quinze personagens e só simpatizei com três: Tessa, a orientadora da escola e esposa do melhor amigo de Barry, Colin. Kay, nova assistente social de Pagford que pretende lutar pelos moradores de Fields e namorada de outro amigo de Barry, Gavin. E Sukhvinder, a filha do meio do casal de paquistaneses Parminder e Vinkram, dois dos principais médicos de Pagford. Alguns como os jovens Krystal e Andrew me despertaram algo próximo de uma empatia, mas alguns atos deles me impediram de realmente apreciá-los. Claro que todos crescem continuamente com o decorrer da narrativa, e embora eu até tenha admirado uns atos finais de outros personagens, não pude deixar de considerar a frieza e mesquinhez deles.

Outra coisa que me incomodou um pouco foi o grande uso de palavrões. Está certo que por ser uma temática adulta a autora tenha uma certa liberdade para usá-los e concordo que até dão um realismo a mais, principalmente nos momentos de conflito. Mas quando fazem parte da narrativa, ainda mais quando feita na terceira pessoa, e não só dos diálogos se torna algo um tanto desnecessário e até ofensivo. Não que a narrativa do livro não seja boa, é ótima. Além de uma verdadeira prova da versatilidade de Rowling, mas realmente acho que ela pecou um pouco em alguns aspectos. Não sei se ela queria muito provar que podia fazer algo totalmente diferente de Harry Potter, mas ficou um pouco exagerado.

Um ponto positivo é que o livro tem vários personagens, de diferentes classes sociais e com diferentes experiências e opiniões sobre a vida como um todo. E dividir a narrativa entre eles faz o leitor ter diversos pontos de vista, conhecendo bem o convívio naquela vila como o de sua própria cidade. Nos levando a pensar como a hipocrisia e o preconceito complicam a evolução da sociedade como um todo. E embora a leitura seja meio lenta na primeira metade, a revelação de segredos e fatos passados faz a leitura da segunda metade fluir melhor.

Não amei Morte Súbita, mas também não me arrependo de ter lido. Apesar dos pontos negativos o livro tem muitos momentos que nos faz refletir sobre a sociedade e até a vida em família. Usando temas que são uma verdadeira ameaça para ambos como as drogas, política retrógrada, o ato de ignorar situações erradas e até o velho e simples egoísmo. É tudo parte de um grande ciclo vicioso, enquanto as pessoas não puderem se apoiar e ajudar suas próprias famílias não poderão fazer o mesmo pela sociedade. E o contrário também acontece.

O final do livro foi bastante chocante, aconteceram coisas que eu realmente não imaginei que aconteceriam. E funcionou bem. Ficou meio em aberto mas não do tipo que deixa brecha para uma continuação, e sim para imaginar o que acontecerá a partir daquelas circunstâncias. E apesar dos fatos tristes, fiquei feliz por alguns personagens finalmente tomarem jeito. Pelo menos aparentemente.

Então se você quer um livro para refletir, talvez seja uma escolha. Mas não espere nada arrebatador e empolgante. Morte Súbita não é um livro da autora de Harry Potter, mas da versátil e brilhante J K Rowling.

Uma vez, já há um certo tempo, Parminder contou a Barry a história de Bhai Kanhaiya, o herói sique que cuidava das necessidades dos feridos em combate, fossem eles amigos ou inimigos. Quando lhe perguntaram por que ele ajudava a todos indiscriminadamente, Bhai Kanhaiya respondeu que a luz de Deus brilha em todas as almas e que, por isso, ele não podia fazer distinção entre os homens. A luz de Deus brilha em todas as almas.
Pág. 380

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