quarta-feira, 17 de abril de 2013

A nova onda dos contos de fadas



O que há de novo?

Quem não leu pelo menos um dos clássicos contos de fadas, grande parte deles escritos pelos irmãos Grimm, durante a infância? Ou viu todas as animações Disney baseadas neles? Pois é, difícil encontrar alguém que responda não a essas perguntas. Mas o fato é que nos últimos anos essas histórias também tem se tornado populares entre jovens e adultos. Não só pela nostalgia que trazem, mas também pela nova roupagem que ganharam com novas versões e adaptações.

Muitos criticam os contos de fadas dizendo que o “felizes para sempre” só serve para iludir as pessoas. E geralmente fazem isso sem saber que os contos em suas formas originais eram muito sombrios. Eram como folclore, cheios de violência e sangue. Com tempo é que foram se modificando e ganhando versões açucaradas. No entanto, algumas das novas adaptações devolvem parte do contexto sombrio original. Alguns ainda são leves. Mas sempre mantém a moral ética inserida nas entrelinhas.


Talvez a franquia Shrek dos estúdios DreamWorks tenha dado o pontapé inicial dessa nova era dos contos de fadas. O primeiro filme, lançado em 2001, inovou trazendo um ogro como protagonista, misturando aspectos de várias histórias em uma só. E a franquia talvez seja também a primeira a mostrar todos os personagens clássicos coexistindo em um único reino/mundo, criando uma verdadeira miscelânea de contos de fadas. Além disso, Shrek conseguiu a reputação que tem usando o humor para quebrar os tabus que os contos ganharam com o tempo. Afinal, quem disse que toda princesa precisa ser bonita e que é preciso morar em um palácio para ter a felicidade eterna? A franquia conseguiu quatro filmes, alguns curtas-metragens e um spin-off do Gato de Botas por conta de seus personagens divertidos e cativantes. O que também agradou muito o público foi o fato de levar situações cotidianas à esses personagens fantasiosos. Isso sem falar da épica trilha sonora.


Talvez tentando embarcar nesse sucesso, surgiram depois filmes que no Brasil ganharam os títulos Deu a Louca na Chapeuzinho (Hoodwinked!, 2005), Deu a Louca na Cinderela (Happily N'Ever After, 2007) e Deu a Louca na Branca de Neve (Happily N'Ever After 2, 2009). Essas animações tinham como premissa dar uma nova versão à esses contos. No entanto, não agradaram tanto. Os roteiros são fracos e os personagens mal conseguem prender a atenção de crianças, quem dirá de um público eclético. E ainda teve Pinóquio 3000 (Pinocchio 3000, 2004), uma versão futurista do conto de Carlo Collodi, mas não chega nem aos pés do original. Então se quiser uma versão futurista de Pinóquio que usa a ciência no lugar de magia, fique com A.I. - Inteligência Artificial (A.I. Artificial Intelligence, 2001), que tem enredo muito mais sólido e emocionante.


A Disney também tentou ganhar com isso trazendo seus clássicos de volta a moda. Primeiro lançou produtos – de vestuário a material escolar – das Princesas, separadas ou todas juntas, o que chamou a atenção principalmente das crianças pequenas. Mas não demorou a embarcar na onda fazendo o que sempre soube fazer de melhor: animações em longa-metragem! E tratou de lançar mais duas adaptações. A Princesa e o Sapo (The Princess and the Frog, 2009) e Enrolados (Tangled, 2010). O primeiro não se trata de uma pura adaptação, mas de uma versão moderna que se passa em Nova Orleans na década de 1920, além de outras mudanças no caráter dos personagens, mas que conseguiu ser uma boa animação. Já o segundo sim se passa no conhecido ambiente europeu medieval dos contos. Apesar de que ao invés de ser resgatada por um príncipe, Rapunzel vive aventuras com um bandido procurado pela Guarda Real. Mas é uma daquelas animações que você quer rever várias vezes sem se importar que digam que está velho demais pra isso. E a Disney já tem uma nova animação baseada em contos a caminho. Será sobre Rumplestiltskin, e terá o titulo de The Name Game. Mas ainda não há previsão de lançamento.


Todavia, os estúdios Disney não ficaram só nas animações. Em 2007 lançaram Encantada (Enchanted) para comemorar os 100 anos do estúdio. O filme conta a história da camponesa Giselle (Ammy Addams) que após conhecer o príncipe dos seus sonhos é jogada no mundo real pela Rainha Narissa (Susan Sarandon). E a moça precisa contar com a ajuda de Robert (Patrick Dempsey) e sua filha para viver num mundo sem magia até que seu Príncipe Edward (James Marsden) venha salvá-la. O longa mistura animação (mundo encantado) com live-action (mundo real), e é repleto de easter-eggs que deixam qualquer fã de Disney com os olhos brilhando. É um filme agradável e pode até ser viciante. Em 2010 houve notícias de que uma sequencia estava a caminho, mas nada mais recente sobre isso foi publicado.


Ainda falando dos longas em live-action, em 2010 a Warner veio com A Garota da Capa Vermelha (Red Riding Hood). No filme, Amanda Seyfried vive uma Chapeuzinho Vermelho mais adulta do que se costuma ver em outras versões. A Chapeuzinho, já em idade para se casar, se vê no meio de um triangulo amoroso enquanto sua vila luta para destruir o lobo que os amedronta há gerações. Já em 2012 surgiram dois longas inspirados no conto da Branca de Neve. Espelho, Espelho Meu (Mirror Mirror) traz uma versão um tanto cômica do conto, apresentando Lily Collins no papel principal e Julia Roberts como a Rainha Má. Já Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman) mostra uma versão muito mais sombria do mesmo. É protagonizado por Kristen Stewart, traz Charlize Theron como a Rainha e Chris Hemsworth como o caçador.


E nesse ano de 2013 ainda temos dois lançamentos. O primeiro é João e Maria: Caçadores de Bruxas (Hansel and Gretel: Witch Hunters), que mostra os irmãos 15 anos depois de encontrarem a casa de doces trabalhando como valentes caçadores de bruxas. Os jovens João e Maria mostram um humor sádico, e usam armas um tanto modernas para o período medieval. O segundo é Jack – O Caçador de Gigantes (Jack The Giant Slayer), onde Jack – ou João, como é chamado na versão em português – não é um garoto ingênuo que troca a única vaca da propriedade da família por feijões mágicos como no conto de Joseph Jacobs*. Na trama ele é um fazendeiro que se une ao Rei e seu exército para salvar a Princesa Isabelle, que foi sequestrada por gigantes. Ian McShane e Ewan McGregor fazem parte do elenco. Enquanto a Disney dá os toques finais em Malévola (Maleficent), que deve estrear em 2014. O longa estrelado por Angelina Jolie contará a história da antagonista da Bela Adormecida. O estúdio também divulgou recentemente que fará remakes em live-action da Cinderella – que provavelmente será estrelado por Emma Watson – e de A Bela e a Fera. E a Warner planeja uma versão de Pinóquio, com Tim Burton na direção e Robert Downey Jr no papel de Gepeto, enquanto Guilhermo del Toro produz um stop-motion 3D do conto. Ambos intitulados Pinocchio e ainda sem previsão de lançamento.


Apesar das controvérsias sobre Peter Pan e Alice serem ou não contos de fadas, não posso deixar de citar suas novas versões cinematográficas, pois, de qualquer forma, são clássicos da literatura infantil. Em 2003 a Warner Bros nos presenteou com o filme Peter Pan. Cheio de efeitos visuais, a produção agradou por retratar mais fielmente à peça e ao livro de J. M. Barrie, os motivos pelos quais o menino Peter não queria crescer. E um ano depois pudemos apreciar Em Busca da Terra do Nunca (Finding Neverland), filme protagonizado por Johnny Depp e Kate Winslet, que conta como teria surgido a peça. Já em 2010 a Disney lançou Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland). O filme dirigido por Tim Burton e que traz Johnny Depp, Helena Bonham Carter e Anne Hathaway no elenco se trata meio que de uma sequencia do livro de Lewis Carrol, onde Alice volta ao País das Maravilhas dez anos depois, mas não se lembra de ter ido pra lá quando criança. Apesar de não ter sido amado por todos, é um belo filme.


Mas os contos não ficaram só no cinema, e foram parar também na TV. No final de 2011 surgiram duas séries de TV americanas inspiradas neles. Once Upon a Time (ABC) e Grimm (NBC). Mas apesar de terem a mesma base, as duas têm enredos totalmente diferentes. Once Upon a Time mostra os personagens dos contos de fadas lutando para quebrar a maldição que os trouxe para o mundo real, numa cidadezinha chamada Storybrooke. A série ainda toma a liberdade de trazer personagens que normalmente não entrariam no contexto dos contos de fadas, como o Gênio (personagem comum das Mil e Uma Noites), Mulan (lenda chinesa) e Frankenstein. Mas faz isso belamente, com um enredo muito bem estruturado. O elenco também é maravilhoso. Só para citar alguns nomes, a série conta com Jennifer Morrison, Lana Parrilla, Robert Carlyle, Ginnifer Goodwin, Josh Dallas, Emile de Ravin, David Anders e muito mais. Já Grimm traz a premissa de que as histórias que ouvimos quando criança não eram apenas histórias. Que seus monstros – na série chamados de Wesen – realmente existem. E é dever de um Grimm relatá-los e caçá-los. O protagonista Nick Burkhardt (David Giuntoli) é um detetive que descobriu o dom de Grimm por sua tia Marie, pouco antes que ela morresse. Para entender esse mundo que não conhecia, Nick conta com a ajuda de Monroe (Silas Weir Mitchell), um Blutbad “regenerado”. A série, na verdade, faz uma analogia aos monstros dos contos de fadas com crimes como pedofilia, tráfico de órgãos, sequestro e violência doméstica. São duas boas séries. E a primeira ganhou a pouco a confirmação de um spin-off chamado Once Upon a Time Wonderland, que será ambientado num País das Maravilhas pré-maldição.


No mesmo ano ainda teve Neverland, minissérie britânica do canal Syfy. Em dois episódios de quase uma hora e meia cada, a minissérie conta como Peter Pan e os meninos perdidos foram parar na Terra do Nunca. E ainda o motivo pelo qual Capitão Gancho o odiaria tanto.

A CW também resolveu embarcar nessa, pois é só o que sabe fazer. Em 2012 veio com Beauty and the Beast. A série é uma versão moderna do conto de Gabrielle-Suzanne Barbot, um remake da série da década de 1980. A “Bela” da série é Catherine Chandler (Kristin Kreuk), uma detetive. E a CW tem programado para o segundo semestre de 2013 Wunderland, uma versão moderna de Alice, onde a protagonista também seria uma detetive, que descobre sob Los Angeles um submundo repleto de crimes, e também o País das Maravilhas.

Outros novos contos e adaptações:
  • A Fera (Beastly, 2011) é um filme baseado no livro Beastly – A Fera, de Alex Flinn. Uma versão contemporânea e adolescente de A Bela e a Fera. Mostra problemas comuns entre os jovens da atualidade, como o preconceito e exposição a drogas ilegais. Estrelado por Vanessa Hudgens e Alex Pettyfer.
  • Uma Garota Encantada (Ella Enchanted, 2004), uma comédia musical protagonizada por Anne Hathaway. Conta a história da menina Ella, que recebeu de sua fada madrinha o dom e maldição de obedecer qualquer ordem que lhe for dada. Não é exatamente uma obra prima, mas é divertido e tem uma trilha sonora fantástica.
  • Stardust – O Mistério da Estrela (Stardust, 2007) é um filme baseado no livro homônimo de Neil Gaiman. Uma história divertida e cheia de ação sobre o jovem Tristan (Charlie Cox), que resolve se aventurar em território proibido e mágico em busca de uma estrela cadente e assim conquistar sua amada Victoria (Sienna Miller). No elenco também estão Claire Danes, Michelle Pfeiffet, Robert de Niro e muitos outros grandes nomes.
  • Os Irmãos Grimm (The Brothers Grimm, 2005) fala sobre os irmãos Wilhelm (Matt Damon) e Jacob (Heath Ledger). Os dois têm histórias sobre suas caçadas, cheias de personagens mágicos. Porém, quando as autoridades francesas descobrem suas farsas, ambos são condenados a resolver o mistério de uma floresta amaldiçoada.

Bom, espero ter feito uma compilação dos novos contos e adaptações. Cada um tem seus preferidos, e há aqueles que não largam os originais por nada. E também àqueles que continuam detestando-os de todas as formas. Mas não podemos negar que os contos de fadas estão em alta, e ao que tudo indica, ficarão por um bom tempo.

* A versão mais antiga relada de João e o Pé de Feijão é de Benjamin Tabart, de 1807. Mas a mais popular até hoje é de fato a de Joseph Jacobs, de 1890, devido a moral que falta na primeira.

Texto: Gabriella Cerutti Zimmermann
Edição e colaboração: Francielle Couto Santos

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